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sexta-feira, 1 de junho de 2007

Banalização da Complexidade

Revue du Vin de France, edição de abril.
Coluna de Éric Riwer:

"Le Figaro quer 'acabar com a eno-complexidade', a saber, o fenômeno pelo qual os franceses ficam complexados pela sua falta de conhecimento sobre o vinho. Segundo uma sondagem efetuada pelo Ipsos-Afvin, 60% dos franceses confessam não compreender nada sobre vinho.

Isto explica a constatação publicada por Les Échos em um artigo entitulado 'O mundo do vinho faz sua pedagogia'. Gérard Bertrand explica: 'É necessário propor códigos de leitura diferentes [...] para tornar o mundo do vinho mais acessível'. Ele mesmo comercializa vinhos com nomes como 'Viognier Voltigeur' e 'Syrah Canaille'.

Boa idéia ou furada? Eu sou a favor da inovação, mas permaneço surdo aos chamados imbecilizantes das sereias do marketing da tendência fun.

Paralelamente à redação desta coluna, tenho responsabilidades em uma escola de arte. Lá eu me asseguro de que todos os dias a demanda pedagógica exija uma mistura fina de rigor e de estrutura, enriquecidos com fantasia e criatividade. É um trabalho no fio da navalha, que demanda equilíbrio e exigência, mas em que a vertigem não está nunca muito longe. Querer reduzir o aprendizado de uma arte ou de um mundo complexo a noções simples que tocam a superficialidade me parece roubar no xadrez.

Não se deve banalizar um mundo rico, pleno de sentidos e de sensações. Ele deve permanecer um prazer. Como diz a jornalista Jacqueline Friedrich, 'o mundo do vinho é talmente interessante que, quanto mais se aprende, mais tem-se vontade de aprender. O vinho abre todos os tipos de janelas'."

Por coincidência - ou talvez não - três cartas da seção de correspondência da mesma edição respondiam a algum leitor que na revista anterior tinha se manifestado a favor de simplificar as etiquetas. Uma delas:

"Eu gostaria de reagir à carta de Fulanô, que julga os vinhos franceses muito complicados. Reduzir o número de informações nas etiquetas é rebaixar a distribuição do vinho à de um produto de supermercado, sem se preocupar com o que o consumidor quer ou procura. Diga aos amadores que pensam que as etiquetas são muito complicadas que eles podem bater na porta de uma adega: eles terão as respostas às suas questões e encontrarão também um serviço real."

Vou esperar pra ver se alguém vai comentar. Tem alguém aí??

4 comentários:

Thomaz Napoleão disse...

Acho (leigamente) que o dilema entre divulgação e banalização é inerente a qualquer tipo de arte, vinho inclusive. Sempre haverá esses dois riscos, o da vulgarização criminosa e o da elitização excessiva, obrigando qualquer artista a navegar todo o tempo entre Cila e Caribde.

Arte não faz sentido sem apreciadores. Da mesma forma, um Château Rothschild magnífico que jamais será sorvido é tão inútil e triste quanto um Picasso abandonado numa granja italiana, ou quanto o sorriso de uma linda mulher asiática oculta sob uma burqa.

Mas eliminar as nuances, os detalhes, as riquezas e os temperos de um vinho, livro ou poema é o primeiro passo para estragá-lo, com algumas exceções. Pouca gente neste mundo sabe fazer algo simples e bom.

Difícil, difícil...

Beda disse...

Thomaz,
obrigado pelo comentário. Fico feliz em saber que os textos já estão sendo lidos (e pensados) através dos links de palácios alheios...
Antes de tudo, penso que você tenha razão. É inevitável que haja simplificações, inclusive porque elas são necessárias para que aquele "produto" complexo seja aproximável, perceptível por alguém que ainda não possui elementos para compreendê-lo de imediato.
Gostei da sua comparação (não tão óbvia para muitos) do vinho com a arte. O problema é que, na prática, muitos (ir)responsáveis pela divulgação do vinho - normalmente midiáticos - tendem a levar o tema para um dos extremos (assim como na arte propriamente dita, penso). É difícil fugir dos nossos preconceitos, mas a maioria gosta mesmo é de reforçá-los. Se quiser dar uma olhada em alguns textos bastante críticos, procure o Bacco e Bocca na seção "Outros Perípeces" e, quando estiver no Brasil, vamos ver se tomamos uma ou outra garrafa juntos.
Um abraço,
Bernardo

Anônimo disse...

Sou contra a simplificação das etiquetas. Mesmo que as informações contidas nelas sejam demasiadas ou incompreensivas e sem importância para uns, para outros podem ser muito importantes, sem contar que essas informações são escritas de uma forma que deixam os rótulos, na maioria das vezes, mais bonitos e elegantes.

Beda disse...

Bom, Fernandito, eu acho que é mais ou menos por aí... Talvez um incentivozinho ao consumidor comum não seja demais, através por exemplo de um contra-rótulo que indique com mais clareza do que se tratam os títulos, nomes e outras coisas nos rótulos mais obscuros... Fala sério: vinho alemão é quase uma prova de paciência, persistência e força-de-vontade mesmo para quem fala alemão!!! E muitos produtos franceses não estão muito longe disso não...


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Peripécias Palacescas de um Quase by Bernardo Silveira is licensed under a Creative Commons 2.5 Brasil License.
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