
A região, o Vale de Lolol, é um pedaço de terra seca, de vegetação retorcida, serpenteando em meio às colinas da cordilheira costeira, a cerca de quarenta quilômetros do mar. Pela manhã a influência marítima se faz visível, com densas brumas que refrescam e umedecem os 16 hectares de jovens e variadas cepas para experimentação que os irmãos Lurton já têm plantadas em torno do galpão em forma de chalé achatado e cores típicas das casas da região.


Embora envolta na amplitude do vale de Lolol, a bodega tem porte de produção de boutique: duas pequenas prensas hidráulicas verticais, uma pneumática, dois tanques de cimento revestido e cerca de 6 de aço fazem todo o trabalho de produção dos vinhos mais finos, que completam sua maturação nas cerca de 370 barricas francesas de 255 e 500 litros.
Em pouco tempo Luca, um rapagão loiro alto, de óculos escuros sobre os cabelos e sorriso jovial e divertido me está guiando pelo processo de produção e me mostrando as plantas bem jovens que mal começaram a produzir uvas. Filho de inglês e francesa, nascido e crescido na Espanha, formado na França, o responsável por toda a produção dos Lurton no Chile (conduz o cultivo e processamento de uvas em três diferentes vales) tem somente 24 anos e é um autentico cidadão do mundo. Descreve com entusiasmo o trabalho que faz e como Jacques Lurton mantém, mesmo no Novo Mundo, a cultura do vinho do Velho Mundo. Os vinhos, embora mostrem a potência, a cor, a energia dos países "novatos", não perdem por nada a elegância e a fineza que os europeus sabem imprimir à bebida que lhes acompanha já há milênios.

Clos de Lolol, um corte de Cabernet e Carménère elaborado somente com uvas do Vale de Lolol, mostra com eloqüência tudo que Luca queria dizer: com uma fineza e equilíbrio dignos de um nobre europeu e a vivacidade e energia de um latino americano que, apesar de já apresentar os traços de seus quatro anos de vida ainda possui vigor para mais anos na garrafa.
Depois da degustação, que também incluiu os outros três vinhos da linha Araucano e o Carménère Premium "Alka", fui convidado a almoçar na Casa de Hóspedes da Hacienda, onde a simpática Silvia nos serviria uma receita que, com orgulho, ela declarou inventada ali mesmo, para aquele almoço: Peru ao forno com passas, amêndoas, bacon e ameixas, acompanhado de purê de acelga, escoltado com segurança e delicadeza pelo Clos de Lolol.
