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sexta-feira, 20 de abril de 2007

Visita à Bodega Araucano

Mais um texto publicado no site do Gerson, foi escrito durante minha viagem ao Chile, em Novembro do último ano. Bom proveito!

A claridade ofuscante ressalta a sequidão do solo, terra solta poeira pura, ao longo dos três quilômetros que o amadorismo me forçou a caminhar. A brisa do Pacífico alivia o calor com sopros intermitentes, de modo que os vinte minutos de caminhada até a sede da Hacienda Araucano não acabem por me cozinhar.

A região, o Vale de Lolol, é um pedaço de terra seca, de vegetação retorcida, serpenteando em meio às colinas da cordilheira costeira, a cerca de quarenta quilômetros do mar. Pela manhã a influência marítima se faz visível, com densas brumas que refrescam e umedecem os 16 hectares de jovens e variadas cepas para experimentação que os irmãos Lurton já têm plantadas em torno do galpão em forma de chalé achatado e cores típicas das casas da região.

Ao me aproximar do portão e começar a caminhar entre as videiras, observo os quatro camponeses Lololinos trabalhando nas vinhas, retirando os talos de folhas excessivos e limpando a terra. Ao fundo, uma escavadeira e um trator preparam as encostas para que, ao longo do próximo ano, o "jovem e precoce" enólogo Luca Hodgkinson com sua equipe possa dar continuidade a duplicação da plantação de Pinot Noir, Carménère, Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Syrah, Sauvignon Blanc que, ao longo dos próximos cinco a dez anos serão atentamente observados e cujos vinhos talvez finalmente revelem a vocação do vale.

Dentro da bodega o pé direito elevado garante uma temperatura agradável, mas quase não consigo enxergar pelo contraste de luz. O barulho ritmado da bomba de água quente lavando as garrafas é a única manifestação de vida lá dentro e, enquanto meus olhos se habituam à sombra, começo a identificar o maquinário de trabalho da pequeníssima boutique de vinhos.

Embora envolta na amplitude do vale de Lolol, a bodega tem porte de produção de boutique: duas pequenas prensas hidráulicas verticais, uma pneumática, dois tanques de cimento revestido e cerca de 6 de aço fazem todo o trabalho de produção dos vinhos mais finos, que completam sua maturação nas cerca de 370 barricas francesas de 255 e 500 litros.

Em pouco tempo Luca, um rapagão loiro alto, de óculos escuros sobre os cabelos e sorriso jovial e divertido me está guiando pelo processo de produção e me mostrando as plantas bem jovens que mal começaram a produzir uvas. Filho de inglês e francesa, nascido e crescido na Espanha, formado na França, o responsável por toda a produção dos Lurton no Chile (conduz o cultivo e processamento de uvas em três diferentes vales) tem somente 24 anos e é um autentico cidadão do mundo. Descreve com entusiasmo o trabalho que faz e como Jacques Lurton mantém, mesmo no Novo Mundo, a cultura do vinho do Velho Mundo. Os vinhos, embora mostrem a potência, a cor, a energia dos países "novatos", não perdem por nada a elegância e a fineza que os europeus sabem imprimir à bebida que lhes acompanha já há milênios.

Degustamos juntos praticamente toda a linha Araucano, enquanto falávamos de Chile e França, ltália e Brasil, de preços e comida, de gente e videira. Delicioso o frescor, tipicidade e equilíbrio dos três Sauvignon Blanc (Los Arbolitos, Araucano e Gran Araucano), destacando-se o mais simples deles pela admirável relação custo-benefício e o mais elaborado pela deliciosa textura e a quantidade de frutas que seguem aparecendo durante a degustação.

Clos de Lolol, um corte de Cabernet e Carménère elaborado somente com uvas do Vale de Lolol, mostra com eloqüência tudo que Luca queria dizer: com uma fineza e equilíbrio dignos de um nobre europeu e a vivacidade e energia de um latino americano que, apesar de já apresentar os traços de seus quatro anos de vida ainda possui vigor para mais anos na garrafa.

Depois da degustação, que também incluiu os outros três vinhos da linha Araucano e o Carménère Premium "Alka", fui convidado a almoçar na Casa de Hóspedes da Hacienda, onde a simpática Silvia nos serviria uma receita que, com orgulho, ela declarou inventada ali mesmo, para aquele almoço: Peru ao forno com passas, amêndoas, bacon e ameixas, acompanhado de purê de acelga, escoltado com segurança e delicadeza pelo Clos de Lolol.

A Casa de Hóspedes é uma construção que segue os padrões da "arquitetura" da região, com um lado todo em vidro que dá uma visão ampla (e estonteante) de todo o vale. Ali se recebem os convidados da Bodega, inclusive para pernoite (hmm, o que a falta de comunicação não nos faz perder...).

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Sobre Tampas e Roscas

Devido à absoluta falta de produção durante o mês de abril, seguem textos elaborados para o site do enófilo Gerson Lopes. Quem sabe em Maio não teremos novidades...

Uma das maiores polêmicas do mundo viti-vinícola, a tampa de rosca ou screwcap, em inglês, está invadindo nossas casas (ou adegas, seria melhor). Produtores de todo o mundo, desde os pioneiros neo-zelandeses e australianos até os tradicionalistas franceses estão substituindo por experimentação, plena confiança ou resignação, suas tradicionais rolhas de cortiça pelas tampinhas metálicas de girar.

Robert Parker, o mais renomado guru dos vinhos em todo o mundo, não deixou passar em branco quando fez suas “12 predições sobre mudanças sísmicas que influenciarão a forma como compramos, o que compramos e quanto pagamos” em vinho, na revista americana Food and Wine. Segundo ele “vinhos engarrafados com rolhas serão minoria em 2015”, pois mais e mais vinícolas de todos os níveis estão mudando para as roscas os vinhos a serem consumidos entre 3 e 4 anos (cerca de 95% por cento dos vinhos do mundo).

O chefe de adega Michael Kerrigan se surpreende com a resistência de parte do público em entrevista à Liquor Watch da Austrália: “É estranho que exista, uma vez que algumas das mais caras bebidas alcóolicas do mundo (single malts, etc.) são fechadas com rosca e têm total aceitação do mercado”.

O que as tampas de rosca possuem de tão importante que tantos produtores optam por substituir o charme das antigas rolhas por tampinhas metálicas?

1. Em primeiro, e mais importante, lugar: elas não afetam o vinho.

As rolhas, elaboradas com a casca do sobreiro, estão sujeitas a fungos e contaminações que podem modificar diretamente o vinho.

2. Não estão sujeitas a movimento.

Por serem seladas com alta-pressão, mudanças de temperatura e pressão interna da garrafa não podem permitir a entrada de oxigênio nas garrafas, como podem quando são suficientes para movimentar as rolhas.

3. O isolamento é completo, impedindo a oxidação prematura do vinho.

De forma que podemos esperar de cada garrafa exatamente o que se declara dela, sem variações abruptas de características e de qualidade.

Sem dúvida nenhuma o vinho está imageticamente relacionado às rolhas de cortiça e aos saca-rolhas, ao ritual do corte das cápsulas e ao trabalhoso (e às vezes cansativo) esforço de se retirar o bouchon. Não teremos, porém, escapatória: cada vez mais vinhos, de diferentes níveis de qualidade utilizarão as novas, seguras, mas menos estéticas tampas de rosca.

A Screwcap Initiative, grupo neo-zelandês de viti-vinicultores que difunde a utilização da tampa de rosca, possui um completo site com todas as informações necessárias sobre o funcionamento e utilização das tampas de rosca.


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Peripécias Palacescas de um Quase by Bernardo Silveira is licensed under a Creative Commons 2.5 Brasil License.
Based on a work at http://www.peripeciaspalacescas.blogspot.com.